Para a aniversariante mais brava e mais amorosa que já conheci
|Você tinha apenas três anos quando me conheceu. Segundo relatos, não ficou tão interessada assim naquele pacotinho de vida que mamãe carregava no colo. Só olhava para a boneca que tinha acabado de ganhar. Talvez já tivesse percebido que sua vida não seria mais a mesma a após a minha chegada. Como uma boa leonina, estava brigando pelo seu território e sentindo que o reinado de uma filha só chegara ao fim. Foi o seu primeiro ataque de ciúmes.
Quando já tínhamos idade o suficiente para brincar das mesmas coisas, minhas Barbies iam passear na fazenda dos seus pôneis. Tudo bem que você só brincava se ficasse com a Barbie mais bonita e o Ken, lógico. Mas isso é normal, porque o irmão caçula é sempre enganado. Faz parte do aprendizado! E faz parte do papel do caçula atormentar o mais velho até que esse exploda de fúria. Óbvio que isso não acaba bem e óbvio que eu sempre levava a pior.
Ouvia os seus discos do Balão Mágico (Se enamora/Quem vê você chegar com tantas cores/E vê você passar perto das flores/Parece que elas querem te roubar). Aprendi a ler com os seus gibis da Turma da Mônica que o papai assinava pra você. E quando entrei na adolescência lia todas as suas revistas Capricho.
O lado bom de ser a caçula? A gente não passa sozinho pelas situações da vida. Você estava comigo no primeiro dia de aula. Ajudou a procurar a minha lancheira na escola quando eu perdi. E na hora do recreio queria saber se estava tudo bem. Como uma leoa, brigava com todo mundo que me atormentasse.
Também teve paciência pra me levar dirigir quando tirei a carta de motorista. E até hoje faz a baliza quando não consigo estacionar (admito, sou péssima na baliza). Estava lá, me aplaudindo de pé em todas as apresentações do ballet. E lê todos os meus textos, desde o meu primeiro trabalho no jornal da cidade. Ah! E quando dividíamos o mesmo quarto, você levantava da cama pra ver se eu estava respirando (o que até hoje rende boas risadas na família).
Mas, ao mesmo tempo, somos água e óleo. Gostos e estilos de vida completamente opostos. E o sangue italiano contribui para que as discussões sejam mais acaloradas. Costumo dizer que entre nós sempre saem faíscas. Depois de cada desentendimento, penso: “Nunca mais vou falar com ela! Nasci na família errada mesmo! Como pode ser tão cabeça oca?”. Acontece que algum tempo depois já estamos falando sobre outra coisa e o assunto foi deletado. As faíscas que nos repelem são as mesmas que se unem e amolecem os corações.
Sou a irmã mais nova, mas a minha preocupação com você é a de mãe. Ontem escutei que o nosso maior desafio está dentro de casa. Com quem dividimos o mesmo teto. E você é sim o meu maior desafio. Nossas diferenças sempre existirão. Mesmo assim, espero que em muitas outras vidas a gente continue se encontrando.
Feliz Aniversário. Te amo, amo, amo e amo mais.
Sua irmã,
Nan
[M.B.]