O amor nos tempos do Collor, não péra!
|Hoje muita coisa fez sentido. Eu entendi os motivos que nos levam a querer fugir da vida.
Hoje não me espantei quando um senhor trêmulo pediu “uma branquinha” no balcão da lanchonete. E nem o atendente relutou. Ele apenas olhou e consentiu.
Porque do jeito que vai, estar sóbrio é crueldade demais. Porque depois de desligar a tv, logo pela manhã, a gente já tem vontade de voltar pra cama. Deitar, fechar os olhos e só reabri-los quando a coisa estabilizar.
A coisa? A coisa!
A coisa toda de País que a gente chama de Brasil. A coisa toda que até ontem parecia tão aceitável.
Não é de se espantar que em tempos de “revolta dos corruptos” até a lei seca esteja molhada. Bebe brasileiro, que sem álcool na goela tá ficando difícil engolir. A seco? Não dá! Senão desce rasgando o que a gente tinha de esperança.
Bebe o que te resta de carnaval, antes que as festas cheguem. Porque esse ano o Peru voou, e com sorte sobra uns trocados pro presunto.
Sortudo presunto que foi-se antes do ano virar. Sorte dos que se foram antes do mundo que a gente conhecia acabar.
“Corta esse monte de bolsa-esmola” alguém diz.
“Corta mesmo” eu pensei. Quem nunca teve tá acostumado, meu caro. Vai doer como sempre doeu, mas o sistema digestivo já aprendeu que com menos sal, a terra é digerida melhor.
“Agora só falta aceitar mais refugiado pobre, vai roubar o emprego dos brasileiros”. Valha-me! Aonde foi que aprenderam?
Lá em casa, desde que eu era pequena, a máxima sempre foi “onde comem dois, comem três”. O que será que a avó deles dizia pra os fazer pensar que não cabe mais um?
A coisa tá feia. Tá mais feia que a zona Leste na chuva. Mas xenofobia não precisa ser um agravante, certo?
Se não dá pra dormir, será que dava pra acordar e ver que a gente se tornou um país melhor em ajudar o próximo? Pobre que é pobre não nega apoio. E se tá dando pra sobreviver na subvida que estamos tendo em pleno 1990 2015/16 será que não dá pra pôr mais água no feijão?
[Essa crônica é um desabafo. 1990 é a menção à alta do dólar e a volta da CPMF]
[L.M.]